domingo, 7 de outubro de 2012


O Manuel Eusébio

 

Morreu há menos de 70 anos e fui ao seu funeral em representação da família. Morava na casa que agora pertence à Alice e filhos. Conheci o já velhote e muito pouco sensível ao que os outros poderiam pensar dele. Assim sendo, quando lhe apetecia urinar, a qualquer hora do dia, abria uma porta larga que nesse tempo havia no andar de cima puxava do “estojo” e aliviava-se, indiferente à possibilidade de que alguém pudesse estar a observá-lo ou a passar por de baixo!

domingo, 9 de setembro de 2012

Breves notas sobre o padre Francisco Lopes da Costa natural da Ponte Da Mucela

O padre Costa foi Pároco na Freguesia de Antanhol de 1911 a 1920 .
Alguém em meados na década de noventa procurou na nossa aldeia informações acerca do Pe.Costa.
Do que a memória da sobrinha Isménia da Conceição guardou e dos relatos da permanência do Pe. Costa em Antanhol, António de Oliveira Bento escreveu o artigo publicado na pag.122 do livro que faz a resenha histórica de “A freguesia de Antanhol” e que seguidamente transcrevemos na integra.

“ Natural da Ponte da Mucela, foi aqui Pároco desde Abril de 1911 até Dezembro de 1920.
Vivia na residência com a mãe e uma irmã. Maria da Conceição Lopes da Costa, que em 28/04/1920 se casou com António Serra na nossa igreja.
O Padre Costa, homem alto e forte, era um grande orador e toda a gente gostava dele.
Fora da igreja pedia que o tratassem pelo Sr. Costa. Não se considerando num pedestal, gostava de se misturar com o povo. Tendo aprendido a tocar viola com o José Vale Roxo, pai dos quatro irmãos Vale Roxo. Encontrava-se com frequência com o seu “professor” ele e o seu sacristão o Joaquim Aleixo na taberna das Pategas para praticar na viola, jogar umas partidas de sueca e confraternizar como era uso naqueles tempos sem telenovelas nem “balão”.--- É dessas ocasiões a frase dele: ” O trunfo é copas a urina é mijo” á qual o sacristão respondia: “Faça o Senhor prior o seu jogo” . Ainda hoje muita gente na freguesia conhece este diálogo, o qual podia ser uma mensagem codificada ….respeitante ao jogo. Era-o certamente quando ele dizia “Orate fartes, bota-lhe a bisca”.
Um dia zangou-se com o Ti Manuel “Ciano” , que não bebia vinho e lhe gritava: “Você é um bêbado”. O Pe. Costa respondia-lhe " E Você é um bebe água”.
Conta-se que no final de uma oração, quando o sacristão concluiu com o “Ámen”, o Pe. Costa lhe disse “falaste bem, meu bruto”
O que me levou a registar estes diálogos é para que se saiba a origem destas histórias que ainda hoje se contam. Era certamente uma personagem interessante e de valor, pois a existência destas histórias e de outras que não chegaram até nós, não impediram, pelo que me apercebi, que fosse amado pelos seus paroquianos, e, sobretudo que fosse respeitado.
Faleceu em 26/11/1942, na sua terra natal, Ponte da Mucela, com a idade de 62 anos”.

sábado, 14 de abril de 2012

FACTOS

O Júlio não era dos mais dotados e, consequentemente, teve por vezes comportamentos pelo menos caricatos! Em determinada altura agrediu o pai, o que foi muito mal aceite pela maioria das pessoas. Até o desembargador Jaime Serra, pessoa muito respeitada, o mandou chamar e lhe passou uma forte reprimenda ao que o Júlio respondeu: "Oh senhor doutor juiz, assim era chamado, se não são os da família quem lhe há de dar educação?!"

Hoje que a gravidez pode ser programada e até sem contacto físico, não será fácil entender como naquele tempo, e já lá vão perto de 70 anos, a chegada da mulher não virgem ao casamento era por norma problemática. Naquele tempo taambém era habitual ppregar partidas aos noivos, inclusivamente trepar a uma escada, se preciso fosse, para ver ou escutar como corria a noite de núpcias, tanto mais porque corria que a noiva já não estaria virgem. Correu depois que a noiva disse, procurando dar ideia da virgindade que não teria: "devagar Julinho que me rompes a veia!"
FACTOS

Há perto de 70 anos três senhoras que se encontravam de férias na Ponte de Mucela resolveram ouvir a Sra. Palmira e foi este escriba quem as levou. Para evitar o percurso à volta da estrada, resolvi ir pela Lomba da Barca e atravessar o rio de barco. Aconteceu que já perto da margem da Moura Morta me desequilibrei e caí à água. O barco com o balanço chegou à margem mas eu, calçado, vestido e mau nadador, estava em dificuldade. Aos gritos das senhoras acorreuu rapidamente o marido da Sra. Palmira que descalço, como era frequente andar, e em grande velocidade desceu a ravina de laje solta sobranceira a casa, atravessou a ínsua e me chegou uma vara que me tirou de apuros.

Também os maridos das senhoras quiseram ouvir a Sra. Palmira, mas neste caso foi o meu pai quem de automóvel os levou. o Cardoso foi o cliente que disse ser apoquentado por almas penadas. Procurando o alívio doo cliente, a Sra. Palmira, depois de o mandar deitar, lá foi fazendo as suas rezas e preces, das quais me cheegaram ao conhecimento: "Vão - seriam as almas penadas - para as profundezas do rio Jordão e para as areias gordas do deserto!"

domingo, 4 de março de 2012

Factos

O casal Manuel Rosa dos Santos e Virgínia tinha uma casa farta: muitos terrenos de cultivo e florestais e um grande rebanho de cabras e ovelhas. Tinha uma criada e um criado, como se chamavam na altura os servidores. Bem me lembro do queijo e do requeijão que ali se fabricavam e de que muitas vezes beneficiei. O casal teve duas filhas e quatro filhos, dois dos quais faleceram em Belém do Pará para onde tinham emigrado. A filha Virgínia casou com Albano Paula do Chão do Rio e Alzira que casou com Caetano Martins Ribeiro. O filho Álvaro Rosa dos Santos casou com Maria José irmã de Caetano e António casou com Mariazinha filha de José serra Campos.

Quando nasceu Alzira, o criado que era apoucado, aproveitando a quebra da vigilância habitual da patroa, tentou abusar da criada que, não estando recetiva, conseguiu esquivar-se e queixou se a Manuel Rosa que repreendeu o criado. Este retorquiu: “se ela conhecesse bem o tipe! quando lhe
apalpei a cousa ela até atrás da porta m´o dava!”

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Nos tempos da 2ª Guerra Mundial (1939/45) a crise também cá se fez sentir fortemente, sendo notória a carência de produtos alimentares, essencialmente os importados, daí resultando a sua carestia e a necessidade de os racionar de acordo com os agregados familiares, ou procurar sucedâneos, como por exemplo o arroubo para substituição do açúcar. O racionamento provocou o contrabando, um mar de rosas para a corrupção e enriquecimento ilícito, e um aumento exponencial da mendicidade.

O pequeno João, filho do Manuel Rodrigues, também conhecido por Manel da Capela ou das Badanas, foi a casa de Manuel Rosa pedir um bocado de broa, que foi dado com uma cabeça de coelho. O João perguntou o que era, tendo sido dito que se tratava de uma cabeça de gato! De imediato o João jogou a fora e disse: “porra que ele ainda está a miar!”

Talvez porque nos dias em que havia pão se estabelecia um corrupio de pessoas da Ponte e de Mucelão para a fila, desde a madrugada e com o caraterístico ruído dos tamancos, nessa altura muito em uso, lembrei-me do simpático padeiro, o Baetas da Quinta, que foi, na região, dos primeiros a adaptar motor (cocciolo) à bicicleta e não conseguia arrancar do Café para cima: tinha que ir dar a volta ao cabo da ponte!