domingo, 4 de março de 2012

Factos

O casal Manuel Rosa dos Santos e Virgínia tinha uma casa farta: muitos terrenos de cultivo e florestais e um grande rebanho de cabras e ovelhas. Tinha uma criada e um criado, como se chamavam na altura os servidores. Bem me lembro do queijo e do requeijão que ali se fabricavam e de que muitas vezes beneficiei. O casal teve duas filhas e quatro filhos, dois dos quais faleceram em Belém do Pará para onde tinham emigrado. A filha Virgínia casou com Albano Paula do Chão do Rio e Alzira que casou com Caetano Martins Ribeiro. O filho Álvaro Rosa dos Santos casou com Maria José irmã de Caetano e António casou com Mariazinha filha de José serra Campos.

Quando nasceu Alzira, o criado que era apoucado, aproveitando a quebra da vigilância habitual da patroa, tentou abusar da criada que, não estando recetiva, conseguiu esquivar-se e queixou se a Manuel Rosa que repreendeu o criado. Este retorquiu: “se ela conhecesse bem o tipe! quando lhe
apalpei a cousa ela até atrás da porta m´o dava!”

-----//-----

Nos tempos da 2ª Guerra Mundial (1939/45) a crise também cá se fez sentir fortemente, sendo notória a carência de produtos alimentares, essencialmente os importados, daí resultando a sua carestia e a necessidade de os racionar de acordo com os agregados familiares, ou procurar sucedâneos, como por exemplo o arroubo para substituição do açúcar. O racionamento provocou o contrabando, um mar de rosas para a corrupção e enriquecimento ilícito, e um aumento exponencial da mendicidade.

O pequeno João, filho do Manuel Rodrigues, também conhecido por Manel da Capela ou das Badanas, foi a casa de Manuel Rosa pedir um bocado de broa, que foi dado com uma cabeça de coelho. O João perguntou o que era, tendo sido dito que se tratava de uma cabeça de gato! De imediato o João jogou a fora e disse: “porra que ele ainda está a miar!”

Talvez porque nos dias em que havia pão se estabelecia um corrupio de pessoas da Ponte e de Mucelão para a fila, desde a madrugada e com o caraterístico ruído dos tamancos, nessa altura muito em uso, lembrei-me do simpático padeiro, o Baetas da Quinta, que foi, na região, dos primeiros a adaptar motor (cocciolo) à bicicleta e não conseguia arrancar do Café para cima: tinha que ir dar a volta ao cabo da ponte!