terça-feira, 27 de julho de 2010

Figuras

- Maria José de Matos Ribeiro

Filha de Manuel da Silva Matos, oriundo do Louriçal e fundador da Estalagem (mais tarde a pensão, café restaurante Beira Alva) foi talvez a figura mais carismática da Ponte de Mucela, nascida em 1858 e falecida em 1940.

Teve uma vida atribulada, em 1918 morreram-lhe dois filhos, um em casa e outro no Brasil, para onde tinha emigrado, poucos anos depois morreu-lhe a nora, Maria Carmina Morgado, que tinha assumido o controle da actividade comercial, e em 1926 morreu-lhe o marido, ficando a testa do negócio com três netos para acabar de criar.

Tempos depois, viu-se a braços com uma acção judicial movida pelo neto por afinidade, entretanto regressado do Brasil, sem qualquer razão, como veio a provar-se em juízo. Mas até que tivesse provado a sua inocência ficou privada de todos os haveres, arrestados pelo tribunal.

A tudo resistiu com estoicismo e dignidade, desenvolvendo a actividade comercial e criando e casando os netos. Era pessoa de sólida educação e muito respeitada por todos, sendo mesmo muitas vezes procurada na esperança de ouvir o seu concelho avisado.

De cabeça integralmente branca era uma veneranda figura.

- Juiz Desembargador Jaime Nunes Serra foi, no século xx, o mais ilustre filho da Ponte de Mucela. Muito respeitado, gozava de geral simpatia.

- José Paula Serra, neto de Manuel Serra e filho de José Serra Campos pessoas de referência no seu tempo, foi o único descendente directo a fixar se na Ponte de Mucela, já que os irmãos António, Manuel e Maria emigraram para o Rio de Janeiro, e embora cá tivessem vindo algumas vezes por lá ficaram.

Desenvolveu as actividades do pai: fabricação de cal preta e comércio por grosso de madeiras, vinhos e derivados. Trabalhador dedicado e franco alinhou com os já nossos conhecidos Caetaninho, Octávio e Álvaro no desenvolvimento local. Deixou-nos ainda novo (final da década de sessenta com menos de 45 anos) fazendo por ignorar o seu débil estado de saúde, deu prioridade ao trabalho. Muito haveria a esperar de si. Deixou muitas saudades.

- Madalena Simões Coimbra, mais conhecida por Leninha era uma mulher de armas que muito apreciei. Após largos anos no Rio de Janeiro, regressou à Ponte de Mucela onde abraçou as actividades deixadas por seu pai, António Joaquim Coimbra (Marinheiro) moagem de cereais, lagar de azeite e agricultura. Mulher desenrascada foi também pessoa local de referência contribuindo para o desenvolvimento da sua terra. Gostava de jogar a Sueca alinhando com os Octávio e Caetaninho com os quais mantinha relação franca. Reconhecendo as suas qualidades Octávio apelidou a de Fortaleza.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

FACTOS

Os bailes da Ponte eram dos mais frequentados das redondezas. Desde muito pequenos recintos foram evoluindo até chegarem à garagem do Caetaninho. Das instalações mais exíguas estou a recordar uma sala do Joaquim Pereira com menos de 20 metros quadrados e da do Zé Marques da Carvalheira com 40 ou mais, alumiadas a petróleo ou gasómetro e mais tarde a petromax. Os proprietários vendiam café e aguardente no Inverno e refrescos no Verão a fim de angariarem uns tostões para a luz e não só. Para os Músicos faziam-se peditórios ou sorteios. Também os animadores foram diversos do Almeida da Sobreira, mais conhecido pelo Cego da Sobreira, com a sua guitarra e a sua voz, ao Albano barbeiro com a sua flauta, a variados bandolinistas e ao Perna Marota de Paradela com o seu bandolim, acompanhado á viola pelo António dos Santos, também conhecido pelo António da Justina (taxista em Lisboa que devido à carência de gasolina e pneus durante a 2ª Grande Guerra se viu obrigado a recolher a Paradela) à viola que bem dominava e também cantava.


Mais tarde começaram a aparecer os conjuntos e a animação era redobrada. O mais antigo talvez tenha sido a Tuna do Travasso.

Octávio também era um bom animador organizando concursos e danças especiais, como por exemplo as restritas a animais em que as alcunhas é que definiam quem tinha direito a entrar na roda: burros, bichos, pegas, macacos, etc.

FACTOS

Há mais de 50 anos a Ponte de Mucela foi presenteada com uma figura de projecção nacional que como é óbvio agitou as gentes sempre prontas a badalar…


Octávio numa das suas frequentes idas a Arganil foi interpelado por uma senhora – felizmente ainda viva – muito reputada no meio oficial que queria tirar nabos da púcara! Octávio que não era de fofocas respondeu negativamente ás questões com que foi bombardeado: a única coisa que sei e que ela é muito bem “empernada”! Oh Sr. Octávio há coisas que não se dizem! Pois há, mas também há coisas que não se perguntam!

FACTOS

À volta de 60 anos atrás numa tarde de Domingo a Ponte de Mucela estava cheia de gente, como era então habitual.


Talvez sob os efeitos de vapores etílicos surgiu um desentendimento entre 2 comparsas que tomando-se de razões entraram em vias de facto e, o mais novo projectou o contendor do muro na calçada um pouco abaixo da casa do Zé Alfaiate. Apesar de tão grande trambolhão com mais de 7 metros a vítima com mais de 50 anos sobreviveu.

Octávio e Caetaninho jogavam a sua bisca de 9 e perante o alarido e apercebendo-se do que se tinha passado Octávio telefonou por uma ambulância para a vítima e Caetaninho afoitou o Cabo de Ordens, já nosso conhecido, a dar ordem de prisão ao contendor em presença que de imediato agrediu a autoridade e se preparava para fugir. Caetaninho fez uso da sua pesada direita de tal maneira persuasiva que o contendor disse logo ao senhor Caetaninho que não precisava repetir porque não fugiria!

FIGURAS

Dr. Martins Vicente



Há mais de 60 anos médico em Poiares onde foi também Presidente da Câmara Municipal era um humanista, não cobrando consultas – mesmo ao domicílio – quando pressentia dificuldades. Nas deslocações à Ponte de Mucela tinha que usar carro de aluguer o que na maior parte das vezes complicava as coisas. Em face da situação Octávio encabeçou, logo seguido pelos cunhados Caetaninho e Álvaro, uma lista destinada a angariar fundos para a aquisição de automóvel para o Dr. Vicente. A colecta excedeu os trinta contos, o que deu para a aquisição de um Volkswagen em segunda mão mas em muito bom estado…azul claro.

Aproveitando a presença do Dr. Vicente não resisto a recordar um acontecimento que jamais esqueceu e que iniciado com um sorriso nos lábios ia acabando mal. Perante um doente velhote cheio de rugas que encobriam muita porcaria foi lhe dizendo que ia ser internado mas não sem que antes tomasse banho o que foi imediatamente recusado sob a alegação de que já não tomava banho há muitos anos e tinha medo de que lhe fizesse mal. Cedeu à insistência do médico e ia morrendo de pneumonia!

FIGURAS

Dr. ANTONINO HENRIQUES


Nascido na Moura Morta em 1918, de origem modesta, que nunca renegou, foi pessoa de referência na educação nacional, começando como professor e mais tarde director das Escolas Eugénio dos Santos em Lisboa e Brotero em Coimbra, acabando como professor da Escola do Magistério Primário de Coimbra. Foi ainda professor do Instituto Industrial e Comercial de Coimbra e Director da Zona Pedagógica do Centro.

Colaborou graciosamente com a Comarca de Arganil (Zé dos Tojeiros e A.H.) e com o Poiarense.

Foi presidente do Rotary Clube de Coimbra e vice-presidente da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra.

Após 40 anos de serviço foi lhe reconhecido oficialmente mérito educacional como símbolo vivo da modernidade pedagógica.

Foi um grande impulsionador do ensino técnico nos concelhos circunvizinhos. Foi Cidadão Honorário de Arganil.

Pedagogo ilustre de elevada cultura, foi lhe prestada homenagem nacional em Coimbra após 44 anos de serviço, com cunhagem de medalha alusiva. Manifestação de grande significado a que tivemos oportunidade de assistir.

Baluarte das letras e da cultura, ficou registada no Poiarense de 19Fev92 a sua última e magnífica intervenção aquando do feriado Municipal do centenário da restauração do Concelho.

Ficou muito ligado a Ponte de Mucela por amizade com a família de Octávio Pedroso de Lima. Na Pensão Beira Alva conheceu e se enamorou de Ana Joaquina, filha de alentejanos que ali passavam férias regularmente.

Deixou grande espólio cujo destino desconhecemos. Faleceu em Coimbra em 18Fev92 e foi sepultado no cemitério da Igreja Nova.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

FIGURAS

MÃE SOLTEIRA


Hoje condição programada e naturalmente aceite pela sociedade, aqui há cem anos era situação embaraçosa.


A Joaquina, com a barriga a crescer e interpelada, dizia às pessoas que era um bicho procurando tapar o Sol com uma peneira!!!

Nasceu na altura própria, de seu nome Francisco da Fonseca, logo alcunhado de Bicho. Não era muito viciado no trabalho, mas era prestável, gostava de beber o seu copo que aperitava com malagueta, sempre que possível.

Foi concorrente do Zé Pequeno, já nosso conhecido, a fazer recados, mas especialista em “dar as voltas”. Naquele tempo não havia agências de viagens… Sem regresso! Era preciso “dar as voltas”, expressão que englobava todas as acções a desenvolver antes dos funerais (registo civil, certidão de óbito, combinação do funeral com o padre, a irmandade e o coveiro).

O Francisco da Fonseca foi ainda o cabo de ordens local (representante do regedor).

quinta-feira, 15 de julho de 2010

FACTOS

A CARÊNCIA DE ELECTRICIDADE


A Ponte de Mucela só tardiamente teve electricidade, e, mesmo assim, sobre a pressão dos Caetaninho e Octávio que para além de terem exercido as suas influências em Arganil encabeçaram um peditório que na altura ascendeu a cerca de 30 contos para comparticipação local.


Até aí as bebidas eram refrescadas num poço onde se mergulhava uma caixa de cerveja devidamente municiada. O poço lá está agora neutralizado.

Naquele tempo, principalmente de Inverno, as conversas à fogueira eram atractivo para quem não queria deitar-se com as galinhas.

Por vezes as cartas eram jogadas a espumoso, pago pelos perdedores e quando as coisas aqueciam surgiam novas soluções: recordo-me de ver abrir meia caixa (de lata) de palitos la reine tirar-lhe os papéis de embalagem apimentar os palitos e verter espumoso até ficar uma papa depois comida à colher!

A Ponte de Mucela muito hospitaleira sempre primou por ajudar quem necessitava. Na Venda, como na altura se chamava ao Café, fazia se questão de proporcionar alimentação a qualquer a qualquer hora, chegando-se a reabrir o estabelecimento já pela noite dentro. Octávio proprietário da Venda, de mão leve gostava de dizer que da Ponte de Mucela ninguém saía com vontade de comer, jogar as cartas ou levar porrada!

FACTOS

CHEGADA DA TV À PONTE DE MUCELA


Também o primeiro canal da TV, a preto e branco, chegou atrasada. Não me recordo da ordem, mas os pioneiros das redondezas foram os cunhados Caetaninho e Octávio.

FACTOS

À VOLTA DE 67 ANOS DE RÁDIO


A RDP vem comemorando 75 anos de Rádio que, à Ponte de Mucela, só chegou por volta de 1943 devido à inexistência de electricidade. Em plena 2ª Guerra Mundial era importante ouvir notícias e o Caetaninho resolveu o problema com uma bateria auto que era necessário recarregar amiudadas vezes. Pouco tempo depois Octávio seguia-lhe no exemplo sendo assim os pioneiros das redondezas.

FIGURAS

FILIPE


Cantoneiro na E.N. 17, vivia na Igreja Nova e era pessoa muito estimada devido ao seu bom feitio. Calmo e colaborante tinha bom relacionamento geral e familiar. Todavia em determinada noite à lareira, após desentendimento inesperado a mulher deu-lhe uma bofetada. Sem mais aquelas o Filipe pegou um cavaco e partiu um braço à mulher. No dia seguinte levou a Poiares para tratamento. Ao pagamento propôs-se pagar a dobrar, alegando que já ficava para a próxima!


È pertença de um seu filho a melhor vivenda da Igreja Nova.

FIGURAS

FRANCISCO CUNHA


De Mucela, imigrou para o Brasil ainda novo, onde construiu um empório dando a mão a muitos dos seus colaboradores, alguns dos quais também chegaram alto. Nunca esqueceu a sua origem modesta, vindo a Portugal com frequência.


Gostava muito de jogar a sueca, gosto que satisfazia na Ponte de Mucela com os amigos Caetaninho, Octávio e Álvaro.

Construiu um “arranha-céus” em Mucela, no qual acrescentou, à última da hora, um andar para poder ver a Ponte de Mucela!

Seu irmão Amadeu, felizmente ainda vivo, grande empresário no Rio de Janeiro, com casa e Mucela, por vezes também aparecia para uma cartada.

FIGURAS

JOAQUIM FERREIRA


Também conhecido por Joaquim Moleiro que foi durante muitos anos. Na rotina das voltas que dava à sua freguesia gostava de dormir a sua soneca, já que a sua mula conhecia bem a rota.


Em determinada altura foi interpelado pela polícia de trânsito que o convidou a soprar o dispositivo determinante da percentagem de álcool no sangue. Negou-se alegando que a mula é que é que deveria ser testada, pois ele dormira toda a viagem!

FIGURAS

ANTÓNIO COIMBRA


Também conhecido por António Marinheiro, boa figura e simpático, imigrou para Moçambique ainda novo onde viria a falecer de acidente, deixando muitas saudades. Intrépido, divertia-se descendo, de bicicleta e de joelhos sobre o selim, o muro do chafariz próximo de Mucelão.

FIGURAS

MÃE SOLTEIRA


Hoje condição programada e naturalmente aceite pela sociedade, aqui há cem anos era situação embaraçosa.


A Joaquina, com a barriga a crescer e interpelada, dizia às pessoas que era um bicho procurando tapar o Sol com uma peneira!!!

Nasceu na altura própria, de seu nome Francisco da Fonseca, logo alcunhado de Bicho. Não era muito viciado no trabalho, mas era prestável, gostava de beber o seu copo que aperitava com malagueta, sempre que possível.

Foi concorrente do Zé Pequeno, já nosso conhecido, a fazer recados, mas especialista em “dar as voltas”. Naquele tempo não havia agências de viagens… Sem regresso! Era preciso “dar as voltas”, expressão que englobava todas as acções a desenvolver antes dos funerais (registo civil, certidão de óbito, combinação do funeral com o padre, a irmandade e o coveiro).

O Francisco da Fonseca foi ainda o cabo de ordens local (representante do regedor).

FIGURAS

PADRE FRANCISCO LOPES DA COSTA


Nascido na Ponte de Mucela à volta da década de 1870, filho do fiscal das Obras Públicas José Lopes da Costa, um dos responsáveis pelo troço da EN 17 (troço este que passa pela Ponte de Mucela, atravessando a actual ponte - a primeira ponte, a jusante da actual, foi iniciada em 1298 por ordem do tesoureiro de D. Dinis, Pedro Salgado, e viria a ser boicotada em 1810 para dificultar a debandada dos franceses)


O Padre Lopes da Costa exerceu o sacerdócio em Antanhol onde deixou um vasto espólio que está a ser objecto de estudo com vista à edição de um livro ligado às actividades do Mosteiro de Antanhol, no qual teve um papel muito activo.

Exerceu também sacerdócio nas Paróquias da Igreja Nova e Moita da Serra, de onde foi transportado para a Ponte de Mucela em estado comatoso, possível consequência de um AVC. Veio a falecer na Ponte de Mucela por volta do ano 1941.

O Padre Costa, de boa figura, espirituoso e de geral simpatia, gostava de jogar cartas (“Oh cá! Oh cá!” dizia quando apanhava as vasas ganhas). Também gostava do seu copito, chegando por vezes a um alegrete, que chegou a causar dissabores.

Em dada altura, o Bispo de Coimbra tirou-lhe a missa. O Padre Costa foi ao mercado de Coimbra, comprou um cesto, encheu-o de sardinhas e conseguiu ser recebido pelo bispo que elegeu para o honrar como seu primeiro cliente na actividade que ia iniciar! O bispo devolveu-lhe a missa.

Sofria muito dos calos e o Caetaninho, já nosso conhecido e seu amigo, gostava de o acirrar, pisando-lhos por vezes. Tinha a mão leve e agredia imediatamente quem lhe parecia ter sido o agressor. O Caetaninho fugia do seu alcance e o Sr. Padre agredia quem estivesse mais à mão! Ficou célebre o diálogo: “Oh Padre Costa!”- disse o Barreirinhas da Portela, e aquele verificando o logro respondeu: “Já nem Santo António te a tira!”

O Doutor Costa Gaito (?), que vivia a uns bons quilómetros a Nascente da Ponte de Mucela, após jogatana animada e troca de palavras azedas, agrediu o Padre Costa, que se propunha ripostar. Os companheiros evitaram e o agressor saiu fininho. No dia seguinte, o nosso Doutor voltou à Ponte de Mucela, mas não teve tempo de abrir a boca, já que o Padre Costa, perguntando-lhe se estava satisfeito com a atitude da véspera e sem lhe deixar dar resposta, pegou-lhe pelo “cu das calças” e pela gola do casaco, propondo-se deitá-lo ao Alva que levava uma grande cheia. Por sorte, alguns dos companheiros da véspera conseguiram evitar o pior.

Voltaremos logo que tivermos novas informações sobre o Padre Costa.